A chapa esquentou de vez, azedando as relações - tradicionalmente fortes - entre a República da Irlanda e o Vaticano, depois que aquele país decidiu fechar sua embaixada na Santa Sé, utilizando a desculpa oficial de reduzir custos com suas representações diplomáticas no exterior. No pacote, anunciado ontem, 03/11/11, está incluído o fechamento das embaixadas no Irã e no Timor Leste. O Vaticano foi pego de surpresa pela decisão, já que faz questão de cultivar o seu status um tanto quanto sui generis de pessoa jurídica de direito público internacional, o que lhe garante, por exemplo, um assento na ONU e direito de voz e de voto em várias organizações multinacionais. Além disso, a República da Irlanda é um dos países católicos mais tradicionais do mundo, em que a religião romana é um traço fundamental da identidade do povo irlandês, tendo sido inclusive pretexto para a guerra civil entre "católicos" e "protestantes" (anglicanos) na Irlanda do Norte, porção da ilha irlandesa que ainda pertence ao Reino Unido em razão da maioria de sua população ser de origem inglesa e, portanto, anglicana.
Ao que parece, entretanto, este não é o maior problema causado pelo fechamento da embaixada irlandesa no Vaticano. Já são públicos e notórios os escândalos de pedofilia que mancharam o nome da Igreja Católica na Irlanda, conforme já noticiamos aqui no blog (ver "Vaticano teria ordenado abafamento de escândalos de pedofilia na Irlanda", bem como a crise diplomática que se seguiu à suspeita de que Roma não só teria feito pouco ou nada para combater e reprimir os pedófilos no clero irlandês, como também teria se esforçado para abafar a repercussão do escândalo. Basta dizer que, em pronunciamento oficial no Parlamento do país, no último mês de julho, o primeiro-ministro irlandês Enda Kenny fez duras críticas às autoridades do Vaticano, prenunciando o rompimento que estava por vir e, agora, é fato consumado, embora as nuvens negras que pairam sobre Roma estejam fazendo todo mundo se mover para tentar apagar o incêndio e evitar desgaste maior, se é que ele ainda existe.