A notícia foi dada pela agência Reuters no último dia 5 de maio, e passou despercebida salvo em alguns círculos muito restritos, mas não deixa de ser interessante o fato de que Simon Baron-Cohen, cientista britânico britânico de alta reputação acadêmica sobretudo no campo das pesquisas sobre teoria da mente, psicopatologias e autismo, diz que não está mais satisfeito com o termo "mal", justo ele que tem como objeto de estudo desde agressões de rua até casos de serial killers e genocídios.
O cientista de origem judia diz que "nós herdamos esta palavra e a usamos para expressar nossa repugnância quando pessoas fazem coisas horrendas, geralmente atos de crueldade, mas eu não acho que isto seja algo mais do que outra palavra para expressar algo ruim.
E para um cientista como eu isto não me parece que explique muita coisa.
Então, eu tenho procurado uma alternativa - nós precisamos de uma nova teoria sobre a crueldade humana".
Simon Baron-Cohen (não confunda com o humorista Sacha Baron-Cohen de "Borat" e "Brüno") é diretor do Centro de Pesquisas sobre Autismo da Universidade de Cambridge, e acaba de lançar um livro no qual ele conclama a comunidade científica a uma, digamos, "retitulação", "renomeação" ou um "reposicionamento" (rebranding) do mal para se chegar a uma explicação mais científica da razão pela qual as pessoas matam e torturam, ou têm enorme dificuldade em comprender os sentimentos dos outros, ou seja, em ter empatia.
A tese de Baron-Cohen é que o mal deve ser entendido como uma falta de empatia - uma condição que, a seu ver, pode ser medida e monitorada, além de ser suscetível a educação e tratamento.
O cientista britânico define, então, empatia em duas partes, primeiro como o impulso (no sentido de "intenção dirigida") de identificar os pensamentos e as emoções de outra pessoa, e, em segundo lugar, como o impulso a responder adequadamente a esses mesmos pensamentos e emoções, pelo que considera a empatia como um dos recursos mais valiosos que estão à nossa disposição no mundo, e que são lamentavelmente pouco utilizados.
Acrescenta ainda: "Nós todos temos graus de empatia... mas talvez não os estejamos usando no seu completo potencial", potencial este que ele aplica não só ao indivíduo e aos pequenos grupos sociais e familiares, mas também à comunidade das nações, citando como exemplo o encontro de Nelson Mandela com o então presidente sul-africano F. W. de Klerk, no começo dos anos 90, que pôs fim ao apartheid na África do Sul: "Empatia tem a ver com duas pessoas - duas pessoas que se encontram e passam a conhecer uma à outra, ajustando-se ao que a outra pessoa está pensando e sentindo...
O progresso que veio desse relacionamento específico - bem, talvez tenha sido o último recurso depois que todos os outros métodos tinham falhado -, teve um custo muitíssimo menor em termos de vidas humanas".
A inspiração para o interesse sistemático de Baron-Cohen em desconstruir o que se pensa hoje sobre a crueldade humana vem de seu passado como filho e neto de judeus que sofreram as consequências da barbárie nazista.
Seu livro será lançado no próximo mês de julho, e terá o título de "Zero Degrees of Empathy" ("Zero Grau de Empatia") na Grã-Bretanha e "The Science of Evil" ("A Ciência do Mal") nos Estados Unidos, e o pouco que se pode adiantar é que Baron-Cohen tenta dissecar e definir os componentes da empatia, incluindo hormônios, genes, ambiente, alimentação e experiências da infância.
Com base em décadas de pesquisas científicas, ele diz que existem pelo menos 10 regiões do cérebro que podem ser chamadas, por assim dizer, de "circuito da empatia". Quando alguém fere outra pessoa, de maneira casual ou sistemática, partes daquele circuito não estariam funcionando bem.
Portanto, a grosso modo, não seria o caso de chamar este acontecimento de "mal", mas de uma pessoa, digamos, "descapacitada para o bem" de acordo com os graus da escala de 0 a 6 que Baron-Cohen propõe para se medir a empatia.
Não deixa de ser um relato interessante de uma pessoa que tem credenciais científicas para dizer o que diz, mas enquanto o livro não é lançado, talvez seja o caso de investigar se essas evidências todas sobre bem e mal não estavam pululando aqui e ali há vários milênios, desde a história (quer você a considere mito ou não) do primeiro assassinato registrado na Bíblia, como já tivemos oportunidade de escrever aqui sobre "Caim e Abel, um clamor por justiça".
A resposta de Caim à "pergunta-teste" de Deus sobre onde estava seu irmão (já morto) em Gênesis 4:9 é o exemplo clássico de falta de empatia: "Não sei; por acaso sou eu o guarda do meu irmão?".
Com o devido respeito ao brilhante cientista britânico, tentar redefinir o mal como "ausência de empatia" também não é nada original.
Neste sentido eu prefiro a definição proposta por C. S. Lewis, assumida e reconhecidamente insuficiente, da maldade como sendo a "bondade corrompida", no texto Bondade x Maldade que também já foi postado aqui.
Isto se a gente quiser ficar só nas questões filosóficas, obviamente, porque do ponto de vista teológico tudo se resume a duas palavrinhas só: "pecado original".