Hoje é um dia muito triste para quem gosta de futebol, pois morreu Sócrates, um dos melhores jogadores que o nobre esporte bretão produziu. Mesmo sendo santista, algo que ele também era antes de jogar no Corinthians, sempre admirei o seu estilo de jogar futebol desde os tempos em que começou no Botafogo de Ribeirão Preto. Era impossível para qualquer torcedor de futebol, independentemente do time de sua paixão, não gostar daquele jeito diferente do magrão esguio, com nome esquisito de filósofo grego e pernas que mais pareciam duas varetas, sua maneira diferente de tratar a bola, e seu toque de calcanhar que era uma marca registrada. Tive o prazer de vê-lo jogar num Corinthians 1 x 0 Santos no Morumbi, em 1982, num tempo em que amigos santistas e corinthianos podiam ir juntos ao estádio e assistir a partida em paz nas numeradas cobertas (sim, isso já foi possível!). Fez parte também da seleção de 1982, como o capitão daquele time maravilhoso de Zico, Sócrates, Falcão, Júnior, Éder, Leandro, Toninho Cerezzo, etc., que mostraram ao mundo que futebol também pode ser arte, como no gol do vídeo abaixo, o do empate contra a União Soviética (depois Éder viraria o resultado para 2x1). Ficaram marcados por terem perdido aquela partida para a Itália, no jogo que passou para a história como "a tragédia de Sarriá". Quase 30 anos se passaram, mas quem acompanhou aquela Copa jamais se esqueceu do que viu, e passou a ver futebol de outra maneira, talvez mais exigente quanto à estética, mas contraditoriamente também quanto aos resultados. Deu no que deu, vimos o futebol mundial ficar mais defensivo e engessado, e os raros lampejos de genialidade, como Messi e Neimar, são os pontos fora da curva, que nos chamam tanto a atenção e evocam uma era que o passado já devorou. Só não devorou o talento de Sócrates, hoje chorado no mundo inteiro, a ponto da tradicional rivalidade futebolística com a Argentina ser esquecida, a julgar pelos comentários dos hermanos na página da notícia do sempre irreverente, mas hoje triste (por um Brasileiro até no nome) jornal esportivo portenho Olé.
É impossível falar de Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira sem falar também de sua militância política e sua insistente resistência contra os poderosos de toda estirpe. A juventude de hoje não tem ideia do que foi o tempo da ditadura militar, em que se podia criminalizar uma simples opinião que não agradasse os generais de plantão, algumas vezes com pena "informal" de tortura ou de morte. Às vezes dá vontade de voltar no tempo, não fazer nada contra a ditadura, para que os jovens de hoje sentissem na pele como era viver naqueles tempos bicudos. Sócrates não limitou sua atuação revolucionária às quatro linhas de um campo de futebol. Seja na chamada "democracia corinthiana", seja na militância política pelas "Diretas Já", ele sempre fez questão de deixar clara a sua posição. Isto às vezes lhe dava um ar um tanto quanto blasé, meio amargo, mas já era demais querer que ele também fosse um fenômeno de marketing, sobretudo numa época em que os marketeiros eram exceções isoladíssimas no futebol. Talvez essa amargura construída na luta por um país melhor tenha feito Sócrates se cuidar tão pouco quanto à sua saúde, mesmo sendo médico. Morreu muito jovem o Magrão, no dia em que o seu time pode ser campeão brasileiro, e - mesmo sendo santista - tomara que seja, porque essa seria uma belíssima homenagem de todos os amantes do futebol a alguém que nos deu tanta alegria, emoção e - principalmente - prazer em ver uma partida de futebol. Obrigado, doutor!
Conheci Dr SOCRATES num show de Luiz Gonzaga -o Rei do Baião- quera seu fã, em Ribeirão Preto, no anos 70, onde jogava futebol e estudava Medicina. Depois encontrei com o jogador Socrates, lider da Democracia Corintiana, em Sampa, na rua Dona Veridiana, na direção do estúdio de som, da ex-Rca Victor, realizar uma gravação. Nos cumprimentamos, regado num abraço, respeitoso e carinhoso como recomenda os iguais. De lá pra cá nunca mais cruzei com o Sr Brasileiro. Adeus... Dr SOCRATES!!! Roque S. de Souza
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