Morreu hoje aos 78 anos de idade o carnavalesco Joãosinho Trinta, um dos artistas populares mais queridos do Brasil.
Antes do desfile de escolas de samba ter se tornado essa embalagem hermeticamente fechada para atender aos desejos publicitários e financeiros das redes de televisão, com suas narrações (do óbvio) tontas e irritantes, ele foi responsável por algumas pequenas revoluções na maneira de se expressar - de maneira organizada - a mais conhecida arte popular brasileira no mundo (já que nosso futebol deixou de ser arte faz algum tempo).
Primeiro, por ter usado e abusado do luxo nos desfiles do Salgueiro e da Beija-Flor nos anos 1970, o que o fez proferir uma de suas mais famosas frases: "povo gosta é de luxo; quem gosta de pobreza é intelectual".
Em 1989, para responder às críticas de que havia transformado o carnaval carioca num desfile apenas de luxo, produziu um dos mais polêmicos e belos carnavais de que se tem notícia, o "Ratos e Urubus, Larguem a Minha Fantasia", celebrando os mendigos e a reciclagem do lixo, isso num tempo em que não era comum ser política, social e ecologicamente correto.
Comprou uma briga com a Arquidiocese católica do Rio de Janeiro, que o proibiu de levar à Marquês de Sapucaí um carro alegórico em que o Cristo Redentor era estilizado como um mendigo.
Com a sua genialidade cabocla, Joãozinho Trinta não teve dúvida: colocou um invólucro preto enorme na imagem do Cristo com a frase bem visível: "Mesmo proibido, olhai por nós!".
Ajudado por um bom samba, o carnaval de mendigos da Beija-Flor encantou o Sambódromo carioca, mas ficou em 2º lugar, atrás da Imperatriz Leopoldinense, com o seu anódino e tecnicamente perfeito "Liberdade! Liberdade!", que celebrava o centenário da proclamação da República.
Do desfile da Imperatriz, pouca gente se lembra, mas o Cristo, os ratos, urubus e mendigos de Joãosinho Trinta marcaram época e serão sempre relembrados quando alguém se cansar de ouvir a explicação tola - pelo narrador da Globo - do enredo bolado pelo carnavalesco surtado e quiser ver imagens que valem mais que mil palavras.
Antes do desfile de escolas de samba ter se tornado essa embalagem hermeticamente fechada para atender aos desejos publicitários e financeiros das redes de televisão, com suas narrações (do óbvio) tontas e irritantes, ele foi responsável por algumas pequenas revoluções na maneira de se expressar - de maneira organizada - a mais conhecida arte popular brasileira no mundo (já que nosso futebol deixou de ser arte faz algum tempo).
Primeiro, por ter usado e abusado do luxo nos desfiles do Salgueiro e da Beija-Flor nos anos 1970, o que o fez proferir uma de suas mais famosas frases: "povo gosta é de luxo; quem gosta de pobreza é intelectual".
Em 1989, para responder às críticas de que havia transformado o carnaval carioca num desfile apenas de luxo, produziu um dos mais polêmicos e belos carnavais de que se tem notícia, o "Ratos e Urubus, Larguem a Minha Fantasia", celebrando os mendigos e a reciclagem do lixo, isso num tempo em que não era comum ser política, social e ecologicamente correto.
Comprou uma briga com a Arquidiocese católica do Rio de Janeiro, que o proibiu de levar à Marquês de Sapucaí um carro alegórico em que o Cristo Redentor era estilizado como um mendigo.
Com a sua genialidade cabocla, Joãozinho Trinta não teve dúvida: colocou um invólucro preto enorme na imagem do Cristo com a frase bem visível: "Mesmo proibido, olhai por nós!".
Ajudado por um bom samba, o carnaval de mendigos da Beija-Flor encantou o Sambódromo carioca, mas ficou em 2º lugar, atrás da Imperatriz Leopoldinense, com o seu anódino e tecnicamente perfeito "Liberdade! Liberdade!", que celebrava o centenário da proclamação da República.
Do desfile da Imperatriz, pouca gente se lembra, mas o Cristo, os ratos, urubus e mendigos de Joãosinho Trinta marcaram época e serão sempre relembrados quando alguém se cansar de ouvir a explicação tola - pelo narrador da Globo - do enredo bolado pelo carnavalesco surtado e quiser ver imagens que valem mais que mil palavras.
Por outro lado, ao proibir a imagem do Cristo mendigo, a igreja católica perdeu uma grande oportunidade de reforçar - num evento popular daquela dimensão - a imagem de Cristo como servo sofredor, como alguém humilde e do povo, que não se preocupava nem um pouco com riquezas.
Naquela época, a tal "teologia" da prosperidade ainda engatinhava no Brasil, e pouca gente se dava conta de que aquela pregação louca e materialista ia gerar as mega-igrejas com seus pastores super-poderosos, ávidos por dinheiro e prometendo mundos e fundos em troca de "sementes" financeiras.
Analisando em retrospectiva, a Arquidiocese carioca deu um tiro no pé não só dos católicos, mas também no dos evangélicos de então, aqueles que honravam este nome.
Unidos pelo repúdio à festa pagã do carnaval, não perceberam a serpente que se esgueirava pelos corredores dos seus próprios átrios.
Talvez a imagem do Cristo Redentor mendigo entre os mendigos vacinasse, de certa maneira e pelo menos por algum tempo, o povão contra esse discurso enganoso e utilitário da "prosperidade" barganhada pelo deus dinheiro.
Não foi culpa do Joãosinho Trinta, entretanto. Ele bem que avisou.
Talvez se algum carnavalesco quisesse colocar outra imagem de Cristo no Sambódromo hoje em dia, ela teria que vir toda banhada em ouro e cravejada de brilhantes, para se adequar ao próspero discurso "evangélico" atual (e aos sonhos de consumo dessa parcela da população).
Abaixo, dois vídeos de 1989 para relembrar toda a polêmica.
No primeiro, aparece a imagem vedada com a faixa; no segundo, o Cristo mendigo tem sua vedação arrancada durante o desfile das campeãs, com os comentários emocionados de Fernando Pamplona, que no final do vídeo compara o carnaval carioca com a Paixão de Cristo em Nova Jerusalém (Pernambuco):
Naquela época, a tal "teologia" da prosperidade ainda engatinhava no Brasil, e pouca gente se dava conta de que aquela pregação louca e materialista ia gerar as mega-igrejas com seus pastores super-poderosos, ávidos por dinheiro e prometendo mundos e fundos em troca de "sementes" financeiras.
Analisando em retrospectiva, a Arquidiocese carioca deu um tiro no pé não só dos católicos, mas também no dos evangélicos de então, aqueles que honravam este nome.
Unidos pelo repúdio à festa pagã do carnaval, não perceberam a serpente que se esgueirava pelos corredores dos seus próprios átrios.
Talvez a imagem do Cristo Redentor mendigo entre os mendigos vacinasse, de certa maneira e pelo menos por algum tempo, o povão contra esse discurso enganoso e utilitário da "prosperidade" barganhada pelo deus dinheiro.
Não foi culpa do Joãosinho Trinta, entretanto. Ele bem que avisou.
Talvez se algum carnavalesco quisesse colocar outra imagem de Cristo no Sambódromo hoje em dia, ela teria que vir toda banhada em ouro e cravejada de brilhantes, para se adequar ao próspero discurso "evangélico" atual (e aos sonhos de consumo dessa parcela da população).
Abaixo, dois vídeos de 1989 para relembrar toda a polêmica.
No primeiro, aparece a imagem vedada com a faixa; no segundo, o Cristo mendigo tem sua vedação arrancada durante o desfile das campeãs, com os comentários emocionados de Fernando Pamplona, que no final do vídeo compara o carnaval carioca com a Paixão de Cristo em Nova Jerusalém (Pernambuco):
Atualização de 20/02/12:
A linda homenagem prestada pela Beija-Flor no carnaval de 2012 a Joãosinho Trinta, num carro alegórico em que, ao invés do Cristo mendigo, trazia uma escultura com o carnavalesco de braços abertos:
Muito bom o post. Sim, cristo redentor bling-bling é a cara da Teologia da Prosperidade. E ainda por cima bem cafona. :)
ResponderExcluirNinguem tem a foto deste cristo inteiro sem o plástico preto?Não achei nada na net.Tinha que ter ele documentado.Agora fica a surpresa para o carnaval 2012 onde a beija flor vai traze-lo de volta. Vai ser muito bonito e o Brasil todo vai aguardar.
ResponderExcluir...as professias do gênio Joaozinho...
ResponderExcluir