O regime nazista alemão foi de tal modo a encarnação do mal nos tempos ditos "modernos", que fica difícil imaginar que eles "comemoravam" o Natal em pleno reinado do terror antes e durante a Segunda Guerra Mundial. Sim, eles comemoravam, como se nada estivesse acontecendo fora das salas aquecidas pelas lareiras, enquanto ainda havia lenha e combustível para alimentá-las. A máquina de propaganda nazista revela, entretanto, que já naquela época muito pouco se pensava no verdadeiro significado do Natal, e a data era utilizada apenas pelo seu lado "útil" e místico de reforçar os laços patrióticos dos alemães. Nesse reino de associações improváveis, hoje parece inacreditável, por exemplo, que a frase darwiniana de Hitler inscrita no cartão de Natal abaixo tenha sido utilizada um dia como expressão de votos natalinos. A tradução dela é a seguinte: "Toda a Natureza é uma gigante luta entre a força e a fraqueza, uma eterna vitória do forte sobre o fraco". Resta a dúvida cruel: o que seleção natural tem a ver com Natal?
Nesses mórbidos cartões, Adolf Hitler é apresentado como o compungido "Pai da Nação Superior", que olha a árvore de Natal com olhos talvez preocupados com os "Filhos da Pátria" que estão imobilizados passando frio no inverno inclemente do front soviético:
Mesma preocupação, por sinal, que assola as famílias dos soldados que lutam por uma causa supostamente justa, enquanto eles tentam se aquecer e festejar o Natal nos seus abrigos gelados:
Era inevitável, por outro lado, que a morte nos campos de batalha fizesse parte desse contexto natalino conforme as derrotas iam sendo impostas ao exército alemão. Mesmo assim, a propaganda nazista tratava de "dourar a pílula" para desviar a atenção da população daquilo que realmente acontecia no front:
Através da sua bravura, vocês nos presenteiam - em casa - com um lindo Natal. Cada criança, quando vê o brilho da chama das velas e canta as canções de Natal, pensa em vocês, cheia de gratidão. |
Filmes pouco conhecidos da época mostram como o próprio Führer fazia questão de se mostrar uma pessoa "normal", comemorando o Natal com os filhos de seu assecla Martin Bormann:
Embora o filme mais revelador seja essa propaganda cinematográfica de 1937, antes do início da 2ª Guerra, portanto, que merece (e deve) ser vista até o final, em que fica claríssimo o propósito nazista de que o próprio significado do Natal fosse sendo solene e gradualmente desvirtuado e dirigido até a "nazificação" total da sociedade alemã (e do mundo, caso eles tivessem vencido afinal):
São fatos históricos da manipulação do significado do Natal que nunca podem ser esquecidos. Devem ser sempre relembrados para que a tragédia não se repita jamais.
Fontes das imagens: German Propaganda Archive e Calvin College