E não é do Nemo, nem de Iemanjá ou do Poseidon. É russa mesmo, e como a igreja ortodoxa russa não deixa de ser uma expressão da identidade do país, sobretudo após a era comunista, o submarino nuclear Aleksandr Nevsky foi escolhido para ter uma capela militar ortodoxa devidamente preparada para a liturgia própria da religião. A adaptação eclesiástica será feita depois que o Nevsky terminar os seus primeiros testes de navegação, iniciados no último dia 24 de outubro. Pode parecer inusitada a proposta, mas o submarino em questão é o segundo a carregar nas suas entranhas uma espécie de templo ortodoxo. O primeiro foi o também nuclear K-433 Svyatoy Georgiy Pobedonosets. A capela foi ofertada pelo Fundo Omophorium (omophorium é o nome da veste litúrgica ortodoxa correspondente ao pálio que se veste sobre a batina católica), uma fundação formada por veteranos de guerra que, após servirem a pátria russa por muitos anos, quando passam à reserva doam boa parte do seu tempo e de seus recursos para trabalhos sociais e de caridade ligados à Igreja Ortodoxa. Além dos dois submarinos nucleares, o Fundo doou capelas também ao porta-aviões Almirante Kuznetsov, ao cruzador Pyotr Veliky, ao lança-mísseis Moskva e ao navio de treinamento da marinha russa, o Kruzenshtern. Como se percebe, a atividade dos capelães ortodoxos nas forças armadas russas cresce a olhos vistos, atendendo à demanda crescente de pedidos por apoio espiritual, o que - cá entre nós - é perfeitamente compreensível pra quem se lembra da tragédia do K-141 Kursk em 12 de agosto de 2000, que matou seus 118 tripulantes. Isso sem contar o caso do K-19, que sofreu um grave acidente nuclear em 4 de julho de 1961, que quase detonou uma guerra total (e final) entre os Estados Unidos e a União Soviética, incidente real que foi adaptado e levado às telonas pelo excelente filme "K-19 The Widowmaker" ("O Fazedor de Viúvas"), dirigido por Kathryn Bigelow e com Harrison Ford e Liam Neeson no elenco. No caso dos submarinos nucleares aqui em questão, capazes de ficar muito tempo submersos, o único inconveniente para os tripulantes é que eles não terão mais desculpas para dizer que não têm como ir à igreja. Ela já está lá à disposição deles. Se o submarino não vai à igreja, a igreja desce ao fundo do mar. Sorte dos russos, porque aqui no Brasil boa parte da igreja está descendo cada vez mais ao fundo do poço de lama. E sempre dá um jeito de cavar um pouco mais...
Fonte: Russia Times