quinta-feira, 11 de abril de 2013

A ilusória superioridade do neoateísmo

O artigo abaixo foi publicado na página do facebook "The Atheist Delusion", e diante da dificuldade de encontrar o original, tomei a liberdade de traduzi-lo para compartilhar com os leitores do blog:

O neoateísmo e o efeito Dunning-Kruger

O efeito Dunning-Kruger é um preconceito cognitivo no qual indivíduos não qualificados padecem de uma superioridade ilusória, avaliando - equivocadamente - a sua capacidade muito acima da média. Este preconceito é atribuído a uma inabilidade metacognitiva de reconhecer os seus próprios erros.

Estariam os novos ateus sofrendo do efeito Dunning-Kruger?

Em 1999, dois psicólogos da Cornell University (David dunning e Justin Kruger) apresentaram a hipótese de que pessoas com pouca competência numa determinada atividade tendem a ter excesso de confiança nela. Esta crença exagerada vem da inabilidade de cumprir uma determinada tarefa enquanto, ao mesmo tempo, não se reconhece o seu nível de incompetência. Por outro lado, aqueles que têm competência suficiente para levar a cabo a tarefa, tendem a ter falta de confiança porque eles estão conscientes das suas próprias deficiências, especialmente quando comparam suas habilidades com as dos outros.

Esta observação se tornou linguagem corrente com qualquer número de casos examinados. Assim, por exemplo, o bêbado pensa que ele pode andar sobre uma linha reta porque ele está tão ocupado pensando em como vai fazer isto, que será incapaz de analizar a sua incapacidade de fazê-lo. Ou ainda alguém que usa um celular enquanto dirige está tão concentrado em falar ao telefone ao mesmo tempo em que pilota o carro que ele não notará a significante queda na sua competência de dirigir.

Para ter uma compreensão de iniciante neste campo do estudo, ocorreu-me perguntar a questão: "Estariam os neoateístas sofrendo do efeito Dunning-Kruger?" Por exemplo, muitas das resenhas do livro de Richard Dawkins, "Deus, Um Delírio" ("The God Delusion"), têm apontado a incompetência do autor nas áreas sobre as quais ele escreve. Algumas dessas resenhas não foram escritas por cristãos ou teístas se defendendo dos ataques deles, mas por profissionais não cristãos constrangidos pelo mau uso das suas disciplinas acadêmicas.

Escrevendo no The New York Times em 2007, o jornalista católico Prof. Peter Steinfels notou que as críticas ao livro "Deus, Um Delírio" de Richard Dawkins, vêm não somente de crentes mas também de ateus e descrentes. Ele se referiu às críticas de acadêmicos como o crítico literário de Oxford, Prof. Terry Eagleton, ao crítico literário de Harvard, James Wood, ao biólogo-evolucionista de Rochester, Prof. James H. Orr, e ao filósofo de New York, Prof. Thomas Nagel. E Steinfels poderia ter acrescentado outros como o filósofo e biólogo da Flórida, Prof. Michael Ruse. A principal queixa desses críticos de Richard Dawkins diz respeito à incompetência dele em lidar com o tema de Deus e da teologia.

A desculpa que o prof. Dawkins dá aos críticos, sobre a sua falta de estudo sério de teologia é a pergunta retórica "Você tem que saber 'leprechologia' antes de não acreditar em leprechauns [os folclóricos duendes irlandeses]?" Essa tática contraria o famoso conselho chinês d'A Arte da Guerra: conheça os seus inimigos. Desafortunadamente para Dawkins, aqueles de nós com algum conhecimento de cristianismo não nos abalamos pela sua tirada anti-teísta. Nós sabemos o suficiente para reconhecer a incompetência e a necessidade de uma humildade consideravelmente maior diante dos fatos.

Muitos cristãos têm escrito contra "Deus, Um Delírio", mas o fato de serem crentes faz com que seu ponto de vista ganhe pouca visibilidade da mídia e na opinião pública - sendo relevados com a frase "naturalmente, eles discordariam". Escritores que possuem tanta credibilidade acadêmica como o prof. Dawkins, tais quais o professor de Matemática de Oxford, John Lennox, ou o biólogo que se tornou teólogo, prof. Alistair McGrath, têm publicado críticas valiosas sobre o neoateísmo. O prof. McGrath, que obteve doutorados da Universidade de Oxford tanto em Biologia como em Divindade, se converteu do ateísmo para o cristianismo através da sua "descoberta da filosofia da ciência" e a sua investigação do "que o cristianismo realmente era". Ele escreveu um valioso pequeno livro chamado "O Delírio de Dawkins" ("The Dawkins Delusion").

Menosprezar tais escritos por causa do viés do autor é tão irracional como desprezar os escritos ateus por causa do seu viés. Cada um deles tem que ser avaliado de acordo com os seus méritos.

Aceitar o que eles dizem por causa de suas credenciais acadêmicas também é irracional. Há momentos na vida em que o pequeno garoto na multidão pode ver através da pretensão acadêmica e declarar que o imperador está nu. Naquela ocasião, uma rápida avaliação dos fatos trouxe o riso para ambos os lados. É razoável esperar que eruditos com qualificações acadêmicas de grande reputação irão escrever nas suas áreas de conhecimento e estarão cientes das limitações do seu conhecimento.

Isto nos traz de volta ao efeito Dunning-Kruger, que diz que quanto menos competente você for mais confiante provavelmente você será. Lançar uma campanha mundial sobre assuntos dos quais você sabe pouco e pesquisou menos ainda - omitindo que você intencionalmente não os estudou porque não crê neles - é menos do que aceitável para um debate público genuíno ou uma discussão acadêmica, para não dizer que está falhando na arte da guerra.

Foi o grande herói do prof. Dawkins, Charles Darwin, que escreveu na sua introdução a "A Descendência do Homem": "a ignorância gera confiança com mais frequência do que o conhecimento".



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