Você certamente já reparou que, às vésperas das eleições, todos os candidatos vão a todos os cultos religiosos aos quais são convidados (ou não). Se eleitos, continuam fazendo cara de santo com auréola toda vez que representantes dessa ou daquela fé vão até eles.
A lógica desse fenômeno é simples aqui no Brasil: quanto mais média você fizer com o padre ou pastor, mais votos você terá. Ou pelo menos espera que essa troca de favores nem sempre explícita se traduza em votos quando as urnas forem abertas.
Evo Morales, o polêmico presidente da Bolívia, não foge muito do figurino.
Ao receber um grupo de evangélicos de uma comunidade denominada Ekklesia, Evo não fez rodeios e se declarou politeísta: "Alguns me declaram como sendo ateu, mas pela primeira vez digo publicamente que, nas madrugadas ou à meia-noite, rezo para meu pai e minha mãe que me deram esta vida. Creio nos meus pais, creio na nossa mãe também e creio também nos nossos deuses".
Por "nossa mãe" nessa declaração entenda a "Mãe Terra", ou Pachamama, a deusa adorada pelos indígenas da etnia aimará, a mesma do presidente boliviano, e por "meus pais" entenda não só o seu pai e sua mãe biológicos mas também o deus sol.
Os representantes evangélicos foram ao encontro de Evo Morales para entregar-lhe o título de "líder de 2012 na Bolívia", mas o presidente fez questão de afirmar que agora "todas as igrejas da Bolívia têm os mesmos direitos e os mesmos deveres", ao contrário do que acontecia antes, quando apenas uma (a católica) gozava de reconhecimento oficial.
Evo faz questão, também, de que as mais diversas manifestações religiosas sejam praticadas no Palácio do Governo durante os atos oficiais, dizendo que esta "é a contribuição de todo o povo boliviano para que todas as igrejas sejam reconhecidas".
Como a comunidade Ekklesia é uma das maiores denominações evangélicas no país, o mandatário boliviano, que já disse que se você comer frango transgênico vira gay, mas de bobo não tem nada, não perdeu a chance de prometer ao manda-chuva da Ekklesia, Alberto Salcedo, que vai visitá-los em breve para "buscar força quando enfrente problemas e ódios"
O pastor Salcedo reiterou seu apoio ao presidente, dizendo que ele "devolveu a dignidade à Bolívia". Espera-se que - quem sabe - ao recebê-lo para um almoço, o reverendo não inclua frango no cardápio.
Evo não tem a mesma relação cordial com os bispos católicos do país, com quem sempre tem algum entrevero e os acusa de atuar politicamente quando criticam seu governo.
Pelo jeito não é só no Brasil que certos líderes evangélicos gostam da proximidade do poder. O utilitarismo venceu.
A fonte da notícia é o portal infoCatólica