sábado, 27 de abril de 2013

Padre Beto desafia bispo de Bauru e larga a batina



Dois dias atrás, mais especificamente em 25/04/13, divulgamos aqui o bafafá que colocou em polvorosa os católicos de Bauru, quando o bispo local, D. Caetano Ferrari, exigiu que o conhecido pároco de sua diocese, Padre Beto, nome pelo qual atende o cidadão Roberto Francisco Daniel, retirasse das mídias sociais as suas declarações em que assume posições heterodoxas em relação às doutrinas consagradas da igreja romana, como o adultério e a homossexualidade, apenas para citar duas das muitas polêmicas que ele enfrentou nos vídeos que estão vinculados àquele artigo.

O prazo para a retratação do padre Beto expiraria na próxima segunda-feira, dia 29 de abril, mas ele se adiantou e hoje pela manhã concedeu entrevista a vários meios de comunicação bauruenses dizendo, basicamente, ainda que não com essas palavras, que deixa a batina.

Na sua página no facebook, o padre Beto publicou a seguinte nota:



O padre deu uma entrevista - com uma camisa com a inscrição "No, gracias" - à TV TEM, afiliada da Rede Globo em Bauru, que pode ser vista clicando aqui, e abaixo segue o vídeo  de sua fala à BauruTV, responsável por extrair do pároco as declarações que foram o estopim de toda a crise atual:




Abaixo transcrevemos um trecho da entrevista que ele concedeu à rádio 94 FM de Bauru, por exemplo:
Padre: - O que eu tenho a dizer é que eu não tenho do que me redimir e muito menos o que ou a quem pedir perdão. Se é pecado refletir, eu sou um pecador porque sempre estarei em reflexão.

Repórter: - Padre, isto significa que o senhor pretende pedir o afastamento da igreja, deixar a batina?

O que me resta é declarar que a partir de segunda-feira eu me afasto do exercício dos ministérios sacerdotais. Eu deixo de exercer a função de padre na Igreja Católica Apostólica Romana.

Como é impossível viver o evangelho de Jesus Cristo numa instituição que no momento não respeita a liberdade de reflexão e a liberdade de expressão.

O nosso modelo de vida é Jesus Cristo. Cristo foi o que mais viveu a liberdade de reflexão e expressão, que fez com que as pessoas refletissem durante toda a sua vida.

É que não é possível ser cristão numa instituição que cria hipocrisia. Nós sabemos que existem regras morais ultrapassadas da igreja católica, nós sabemos que a maioria não vive essas regras morais porque eu duvido que a maioria dos casais não usam métodos anticoncepcionais, a laqueadura ou a vasectomia, por exemplo.

Repórter: - Padre Beto, o afastamento impede que você exerça o sacerdócio em qualquer outra diocese, é isso?

O afastamento, eu não tenho a pretensão de exercer o meu sacerdócio em nenhuma outra diocese, porque eu acredito que o quadro da igreja católica seja geral.

Repórter: - E qual o futuro do Beto, então, e não mais do padre?

Porque uma vez ordenado padre, eu sempre serei padre. É... eu vou continuar com a integridade de padre, eu... é... vou procurar ocupar todos os espaços que a sociedade poderá me oferecer para a reflexão, para a evangelização.

Eu vou ser um ser pensante na sociedade contemporânea. A partir de segunda-feira eu não exerço nenhuma cerimônia dentro da igreja católica.

Repórter: - É uma decisão que não tem volta, padre Beto?

Tem volta se a igreja mudar, se a igreja mudar de postura, ela se tornar menos... aliás, ela deixar de ser dogmatista, é... ela ficar sim com seus dogmas, mas aberta à discussão, então aí ... aí eu retorno de coração aberto, e com a maior vitalidade para poder trabalhar pelo Cristo.
O leitor pode perceber, portanto, que é uma situação sem volta, e ao que tudo indica o padre Beto abandona a igreja católica.

Agora, se os amigos católicos do blog permitem que este que vos escreve dê um pitaco nessa pendenga em outra seara, considerando que não sou de Bauru nem católico, mas protestante (já que "evangélico" é no Brasil de hoje uma designação ideológica e não teológica), tenho a dizer o seguinte:

1) Não sendo de Bauru, mas vendo eventualmente o noticiário televisivo de lá, reparei que o padre Beto era presença constante nas reportagens sobre feriados religiosos, por exemplo.

2) Além disso, tive a infelicidade de acompanhar um determinado horário eleitoral na campanha municipal de 2012, em que o padre Beto pediu voto efusivamente para o candidato a vereador Ricardo Barreira, que terminou como o 40º mais votado, com 1.099 votos (0,61% do total), não se elegendo:


3) Ocorre que "Pai" Ricardo Barreira é babalorixá, conforme o próprio padre Beto diz no vídeo acima que "ele é de outra religião".

4) Nada contra o diálogo entre católicos e umbandistas, ou contra ambos, mas era no mínimo curioso que um padre apoiasse um pai de santo para vereador de Bauru, ainda mais um padre que tem tanto destaque naquela diocese, o que lança imediatamente a dúvida: não havia candidatos católicos idôneos ou viáveis para ele apoiar?

5) Logo, como o próprio bispo de Bauru disse no vídeo que está postado no artigo de 25/04/13, não é de hoje que o padre Beto vem se indispondo com os seus superiores.

6) Ora, o padre fez seminário por muitos e longos anos, sabia muito bem de tudo o que implicava o sacerdócio que exerceu livremente por outros tantos anos, conhecia de cor e salteado todos os dogmas que a igreja católica defende, e agora vem se fazer de desentendido?

7) Quando o padre Beto diz na entrevista acima que "vou procurar ocupar todos os espaços que a sociedade poderá me oferecer para a reflexão", está parecendo mais que ele gostou da campanha política, e podemos ter surpresas nas próximas eleições bauruenses, você não acha?

8) Cá entre nós, dizer que ele volta se a igreja mudar revela uma empáfia gritante. Qualquer leigo, ateu ou não católico sabe muito bem que é praticamente impossível que o Vaticano rompa um milímetro que seja dos seus dogmas, e o padre Beto parece querer que o papa Francisco ligue desesperado pra ele lá de Roma dizendo que vai convocar urgentemente um novo Concílio só para atender os pleitos e socorrer os pruridos de consciência do sacerdote bauruense. Menos, padre Beto, menos...

9) Humildade talvez seja a traço mais característico do seguidor de Cristo. Ao dizer que "não tem do que se redimir" nem "a quem pedir perdão", padre Beto mostra que pouco ou nada entendeu do que significa ser cristão, lamentavelmente. 

10) Beto tem todo o direito de seguir a religião que quiser, e deve ser respeitado por isso. Talvez tenha perdido tempo demais sendo padre católico, e olha que teve tempo muito mais do que suficiente para pensar sobre o que isto significava.

11) Fica estranho ele vir agora, portanto, dizer que sua igreja deve seguir o que ele acha da vida e do mundo, depois dele próprio ter-se valido do título de padre e ter utilizado a estrutura (e a máquina) católica para apoiar candidatos em eleições.

12) Quem deve estar feliz da vida é o bispo de Bauru, que apesar da (talvez) excessiva paciência que teve com o prelado ora revoltado, livrou-se de um pepino daqueles. Pode soltar os rojões, D. Caetano Ferrari!

Prepare-se, Bauru: deve estar vindo aí um novo político ou babalorixá...



Atualização de 29/04/13

O bispo de Bauru excomungou o padre Beto, leia a íntegra da nota da diocese clicando aqui.










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