quarta-feira, 3 de abril de 2013

Quem não é contra nós é por nós?


Jesus, porém, respondeu: Não lho proibais; porque ninguém há que faça milagre em meu nome e possa logo depois falar mal de mim; pois quem não é contra nós, é por nós. 
(Marcos 9:39-40)

O mundo atual é estranhamente egocêntrico. Vivemos boa parte de nossas vidas em função de nós mesmos, buscando nossos direitos, sem se importar muito com o chamado “bem comum”. Na prática, buscamos unicamente nossa glória, de ninguém mais.

Glória! É muito fácil encontrar esta palavra em contextos cristãos e mais fácil ainda é encontrar cristãos dizendo que esta só deve ser dada a Deus. 

Esta palavra, no entanto, se mantém trancada dentro de nossas igrejas, separando-se há muito de seu significado. 

E quando nos voltamos ao egocentrismo, orgulho, busca de direitos, raramente nós pensamos em glória. Menos ainda pensamos em atribuir glória a Deus.

Esquecemos tão rapidamente da glória dada a Deus, que até mesmo os apóstolos caminhando com o próprio Senhor não a levaram em conta... 

Por isto o tema “Glória” permeia todo o relato que encontramos em Marcos 9 a respeito dos discípulos, em Cafarnaum, de modo peculiarmente sutil.

O relato começa no versículo 33, quando chegam em Cafarnaum, provavelmente na casa de Pedro (referida como “a casa”). 

Jesus então pergunta a eles o que discutiam pelo caminho. Se lermos o texto anterior, perceberemos que Jesus havia falado sobre sua morte e ressurreição. Logo, seria natural esperar que eles estivessem se perguntando sobre o significado destas palavras. 

No entanto, o versículo 34 nos informa que o motivo da discussão foi outro: discutiam sobre quem era o maior deles. 

E o silêncio dos discípulos aqui foi uma resposta maior do que imaginavam, pois este silêncio revelava que a discussão não foi algo leve, mas foi algo digno de lhes deixar envergonhados. 

O desejo pela glória era algo que os embriagava, e Cristo sabia disto. Por isto, mesmo sem eles responderem, tomou uma criança e os explicou que deveriam ser como ela, recebendo-o em simplicidade.

A repreensão nunca é algo fácil de se receber, ainda mais quando o tema da repreensão é a humildade. Por isto, não nos impressiona o fato do apóstolo João falar sobre um homem que repreenderam por expulsar demônios no nome de Cristo. 

Talvez, se falarmos de algo bom que fizemos, não recebemos também um elogio, não é mesmo? 

Se esta foi uma tentativa do apóstolo de mudar de assunto, não podemos saber. Se foi, então temos que agradecer ao evangelista por registrar o relato desta forma, mostrando-nos que os apóstolos eram acima de tudo, humanos, como eu e você.

O fato é que esta pergunta na verdade não mudou em nada o tema da conversa. Pois ainda vemos os apóstolos se considerando aptos a julgar quem deve ou não proclamar Cristo, como sendo superiores às outras pessoas. 

Isto porque eles não repreenderam a pessoa em questão por que ele fazia algo errado ou ensinava algo errado, mas simplesmente por que ele não os seguia. 

O uso do imperfeito aqui ressalta que tal pessoa não tinha o costume de segui-los, ou seja, não era um seguidor declarado de Cristo. 

Então, se a pergunta de João foi motivada mais por dúvida do que por vergonha da repreensão, temos aqui um bom motivo para ela: afinal de contas, é qualquer um que te recebe mesmo, Senhor? Será que este homem que apenas expulsa demônios em seu nome te recebe também?

E aqui temos o trecho que destacamos logo acima. Nosso Senhor nos ensina a não o proibir, pois não há pessoa neste mundo que faça um milagre em seu nome, e que depois saia falando mal dele. 

O trecho é usado por pessoas que defendem pastores de nossos dias que vivem se envolvendo em polêmica e que defendem todo tipo de doutrina estranha ao Evangelho.

 Afinal de contas, pensam eles, se estes pastores fazem milagres em nome de Cristo, não devemos proibir eles, não é? 

E a resposta para esta pergunta é, se nossa base para a proibição for apenas o fato deles não seguirem a Cristo, então não devemos mesmo proibir. 

No entanto, a proibição se dá por que eles não seguem a Cristo, ou por que dizem segui-lo, mas não o fazem?

Expulsar demônios era um milagre feito por apóstolos e pelo próprio Cristo, uma boa obra, portanto. Poderíamos aplicar o mesmo princípio em nossos dias a toda boa obra feita em nome de Cristo. 

Alguém ajuda o pobre por causa do nome de Cristo? Então não devemos proibi-lo. Alguém é honesto por causa do nome de Cristo? Então não devemos proibi-lo. Por quê? 

Porque esta pessoa está fazendo tudo isto para a glória de Cristo. E quem somos nós para impedirmos que a justa glória seja dada ao nosso Criador, nosso Senhor? 

Por que não comemorar quando alguém dá glórias a Deus e a Cristo, mesmo que ela não os esteja seguindo conosco? 

Será que é por que colocamos nossa glória acima da glória ao Senhor? É mais importante estar conosco do que dar glórias ao Criador? 

Talvez este fosse o problema com os apóstolos ali. Eles não apenas disputavam quem era o maior entre eles, mas também se colocavam como referência para os outros. 

Para eles não é a verdade que impede ou permite que alguém dê glória a Deus, mas o seu relacionamento com a igreja. 

Sola Scriptura ou Sola ecclesia? Tudo está relacionado com Glória.

Por isto se alguém usa este texto aqui para defender pastores em seus escândalos, este alguém está errado, pois o escândalo não traz glória ao Senhor. 

E para deixar isto mais claro, caso ainda haja alguma dúvida sobre isto, nosso Senhor continua seu ensino falando das boas obras feitas por causa de Seu nome. 

O Senhor nos diz que estes terão sua recompensa certa, não especificando aqui qual é a recompensa em vista. 

Por aí se nota que o Senhor acima de tudo é grato àqueles que lhe glorificam, seja quem for. O amor de Deus está acima de nossos preconceitos e tradições.

Mas e aqueles que escandalizam? E aqueles que fazem os pequeninos tropeçarem? E aqueles que se dizem pastores mas deixam suas ovelhas se perder pelo caminho? 

Seria melhor terem se lançado ao mar do que fazer isto, pois antes de dar glória a Deus, eles tentaram manchar seu nome. 

E não há vergonha maior, não há pecado maior do que tentar manchar o santo Nome de Deus, o mesmo Nome que não poderia ser tomado em vão (e o Senhor não terá esta pessoa como inocente, Êxodo 20:7). 

Não é mais do que natural defender Deus daqueles que tentam manchar seu Nome? Quem poderia defender estas pessoas?

Por que alguns são causa de tropeço a outros? Por quê?

Muitos possuem algo de precioso em suas vidas e que nem sempre as permite gozar de uma vida santa e reta diante de Deus. 

Muitos se apegam ao dinheiro, ao poder, ao bem-estar. Nosso Senhor prefere usar uma linguagem mais chocante aqui. 

Quem quer perder uma mão ou um pé? Quem quer perder um olho? Se você no entanto soubesse que jamais iria ter uma vida de eterna felicidade se mantiver aquele olho, você não estaria disposto a perdê-lo? 

Esta é uma pergunta muito difícil de responder, porque ela toca no ponto vital de todo este capítulo. O que é mais precioso para nós? Um olho ou o Senhor? 

Obviamente, Jesus não está aqui querendo que nos mutilemos por Ele, mas um olho é muito mais palpável do que aquilo que Ele realmente quer atacar. 

Não dá para negar que nós temos olhos, pés, mãos, mas podemos negar tudo que está envolvido neste texto. 

Afinal de contas, o que é mais precioso para nós? O Senhor Jesus, nosso Redentor? Ou nosso orgulho, nossa avareza, nossa glória, nosso bem-estar? 

Podemos negar ter todos estes, mas na verdade, acabamos dando espaço para todos. 

Na prática, deixamos a palavra glória na igreja, de preferência como parte de algum hino antigo. 

As pessoas veem pastores realizando milagres por aí sem no entanto refletir sobre quem está sendo glorificado ali. 

Não nos perguntamos quantas pessoas de outras igrejas tais pastores ajudaram com seus milagres, nem nos perguntamos quantas destas aparecem em seus programas e pregações.

Não poderemos entrar no Reino dos céus se buscarmos nossa glória mais do que a glória de Deus. 

Não poderemos entrar na vida se o amor por nossa glória nos faz impedir que a glória a Deus seja proclamada. 

Seremos salgados por fogo. Temos que ter sal em nós mesmos, que é a santidade, a reverência, a piedade. Sem isto, seremos tão inúteis como o sal que não salga.





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