Empresa que recebeu R$ 2,5 milhões para pesquisar turismo fica em igreja
Pastor que se apresenta como ''turismólogo'' é responsável por Conectur, entidade de fachada que embolsou recursos de convênios do governo federal e, segundo as investigações da Polícia Federal, os repassou para a deputada Fátima Pelaes (PMDB-AP)
Leandro Colon - O Estado de S.Paulo
ENVIADO ESPECIAL/MACAPÁ
Embrião do esquema de corrupção no Turismo do Amapá, a entidade Conectur é registrada numa igreja evangélica. Recebeu R$ 2,5 milhões do governo federal, mas nunca existiu. No seu endereço oficial funciona a Assembleia de Deus Casa de Oração Betel.
O pastor da igreja, Wladimir Furtado, é o dono da Conectur. Ele mora no andar de cima e foi preso na Operação Voucher, da Polícia Federal. É acusado de envolvimento nos desvios de recursos em convênios do Ministério do Turismo e, segundo investigados, de repassar parte do dinheiro para a deputada Fátima Pelaes (PMDB-AP).
A deputada é chamada de "advogada" nas conversas telefônicas, de acordo com a polícia. O pastor nega as acusações.
O Estado foi visitar a "sede" da Conectur na sexta-feira. Acabou encontrando uma igreja. A ousadia é tamanha que o pastor pendurou no alto do prédio religioso uma bandeira mencionando o convênio com o Ministério do Turismo. O banner estava lá três dias depois da operação policial que desmontou o esquema. Em depoimento à PF, Furtado disse ser "turismólogo". Sua entidade ganhou R$ 2,5 milhões do Ministério do Turismo para cuidar da "Realização de Estudos e Pesquisas sobre Logística no turismo no Estado do Amapá, levando em conta a situação das redes estabelecidas ao redor dos serviços turísticos". A verba foi liberada, mas o projeto não saiu do papel. E o dinheiro sumiu.
O Instituto Brasileiro de Desenvolvimento de Infraestrutura Sustentável (Ibrasi), pivô do esquema revelado pela Operação Voucher, foi, depois de 2009, uma espécie de "sucessor" da Conectur, que virou uma "subcontratada de fachada" do próprio Ibrasi. É o que, na avaliação dos investigadores, revela os indícios de uma grande organização criminosa, uma "quadrilha", que contou com a participação de funcionários do Ministério do Turismo.
A casa - ou a igreja, no caso - "caiu" na madrugada de terça-feira, quando agentes da PF prenderam o pastor e o esquema começou a ser desvendado. Ele havia colocado o sobrinho e a cunhada, que moram na periferia de Macapá, como "laranjas" na diretoria da Conectur. Os dois também foram presos na terça-feira e entregaram o jogo para a PF: o dinheiro do Ministério do Turismo, segundo eles, foi parar nas mãos da deputada Fátima Pelaes.
Wladimir, ex-prefeito da cidade de Ferreira Gomes (AP), não só foi entregue pelos parentes, como teve de contratar um advogado às pressas por R$ 40 mil para tentar sair da cadeia e também livrá-los da prisão.
Deputada. Gravações telefônicas da Polícia Federal, feitas com autorização da Justiça, mostram, de acordo com a investigação, cumplicidade entre Fátima Pelaes, Wladimir e o secretário executivo do Ministério do Turismo, Frederico Silva da Costa, outro preso na Operação Voucher. A deputada, segundo a PF, é tratada como a "advogada" nas conversas.
Num diálogo com seu assessor direto, Antônio dos Santos Júnior, no dia 27 de junho, Frederico trata de uma visita que uma funcionária do ministério faria ao pastor em Macapá. "Ele (Wladimir) tá lá derrubando pulga né? Tá lá catando piolho", diz Frederico, segundo o relatório da PF.
Logo depois, o secretário executivo cita a pessoa que, na avaliação da polícia, seria a deputada Fátima Pelaes: "A advogada me passou uma mensagem. Ela tava em dúvida se tínhamos sido nós que preparamos a defesa do pessoal lá." O "pessoal", de acordo com a PF, seria o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento de Infraestrutura Sustentável (Ibrasi), pivô do esquema investigado pela PF. Nos interrogatórios, a polícia perguntou ao assessor Antônio por que a deputada Fátima Pelaes era chamada de "advogada" na conversas. Ele disse não ter "a menor ideia".
Fiscalização. Apesar do fracasso da Conectur em cumprir o convênio de R$ 2,5 milhões, uma nota técnica assinada por uma funcionária do Ministério do Turismo, Kerima Carvalho, aprovou a prestação de contas de um serviço que não saiu do papel. No parecer, ela admite que não houve acompanhamento técnico "in loco". Ou seja, o governo jamais foi conferir de perto se o projeto foi executado. Kerima foi presa também.
No documento a favor da Conectur, ela afirmou: "A análise da documentação apresentada fez concluir que foram atendidos os requisitos de elegibilidade do Convênio MTur/Cooperativa de Negócios e Consultoria Turística - Conectur nº 702720/2008, de acordo com as normas e procedimentos legais aplicáveis, estando, portanto, a Prestação de Contas aprovada no que diz respeito ao cumprimento do objeto".
Depois de levar o dinheiro do Turismo, a Conectur passou a fazer parceria com o Ibrasi. Recebeu R$ 250 mil para mil horas de consultoria referente a um convênio do Ibrasi com o Ministério do Turismo para a "capacitação técnica" no Amapá. O relato da conclusão sobre seu serviço, segundo a Polícia Federal, é fraudulento. "Fica claro que seu relatório não passa de uma fraude para justificar o pagamento por um serviço que não foi executado", diz a investigação.
O pastor da igreja, Wladimir Furtado, é o dono da Conectur. Ele mora no andar de cima e foi preso na Operação Voucher, da Polícia Federal. É acusado de envolvimento nos desvios de recursos em convênios do Ministério do Turismo e, segundo investigados, de repassar parte do dinheiro para a deputada Fátima Pelaes (PMDB-AP).
A deputada é chamada de "advogada" nas conversas telefônicas, de acordo com a polícia. O pastor nega as acusações.
O Estado foi visitar a "sede" da Conectur na sexta-feira. Acabou encontrando uma igreja. A ousadia é tamanha que o pastor pendurou no alto do prédio religioso uma bandeira mencionando o convênio com o Ministério do Turismo. O banner estava lá três dias depois da operação policial que desmontou o esquema. Em depoimento à PF, Furtado disse ser "turismólogo". Sua entidade ganhou R$ 2,5 milhões do Ministério do Turismo para cuidar da "Realização de Estudos e Pesquisas sobre Logística no turismo no Estado do Amapá, levando em conta a situação das redes estabelecidas ao redor dos serviços turísticos". A verba foi liberada, mas o projeto não saiu do papel. E o dinheiro sumiu.
O Instituto Brasileiro de Desenvolvimento de Infraestrutura Sustentável (Ibrasi), pivô do esquema revelado pela Operação Voucher, foi, depois de 2009, uma espécie de "sucessor" da Conectur, que virou uma "subcontratada de fachada" do próprio Ibrasi. É o que, na avaliação dos investigadores, revela os indícios de uma grande organização criminosa, uma "quadrilha", que contou com a participação de funcionários do Ministério do Turismo.
A casa - ou a igreja, no caso - "caiu" na madrugada de terça-feira, quando agentes da PF prenderam o pastor e o esquema começou a ser desvendado. Ele havia colocado o sobrinho e a cunhada, que moram na periferia de Macapá, como "laranjas" na diretoria da Conectur. Os dois também foram presos na terça-feira e entregaram o jogo para a PF: o dinheiro do Ministério do Turismo, segundo eles, foi parar nas mãos da deputada Fátima Pelaes.
Wladimir, ex-prefeito da cidade de Ferreira Gomes (AP), não só foi entregue pelos parentes, como teve de contratar um advogado às pressas por R$ 40 mil para tentar sair da cadeia e também livrá-los da prisão.
Deputada. Gravações telefônicas da Polícia Federal, feitas com autorização da Justiça, mostram, de acordo com a investigação, cumplicidade entre Fátima Pelaes, Wladimir e o secretário executivo do Ministério do Turismo, Frederico Silva da Costa, outro preso na Operação Voucher. A deputada, segundo a PF, é tratada como a "advogada" nas conversas.
Num diálogo com seu assessor direto, Antônio dos Santos Júnior, no dia 27 de junho, Frederico trata de uma visita que uma funcionária do ministério faria ao pastor em Macapá. "Ele (Wladimir) tá lá derrubando pulga né? Tá lá catando piolho", diz Frederico, segundo o relatório da PF.
Logo depois, o secretário executivo cita a pessoa que, na avaliação da polícia, seria a deputada Fátima Pelaes: "A advogada me passou uma mensagem. Ela tava em dúvida se tínhamos sido nós que preparamos a defesa do pessoal lá." O "pessoal", de acordo com a PF, seria o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento de Infraestrutura Sustentável (Ibrasi), pivô do esquema investigado pela PF. Nos interrogatórios, a polícia perguntou ao assessor Antônio por que a deputada Fátima Pelaes era chamada de "advogada" na conversas. Ele disse não ter "a menor ideia".
Fiscalização. Apesar do fracasso da Conectur em cumprir o convênio de R$ 2,5 milhões, uma nota técnica assinada por uma funcionária do Ministério do Turismo, Kerima Carvalho, aprovou a prestação de contas de um serviço que não saiu do papel. No parecer, ela admite que não houve acompanhamento técnico "in loco". Ou seja, o governo jamais foi conferir de perto se o projeto foi executado. Kerima foi presa também.
No documento a favor da Conectur, ela afirmou: "A análise da documentação apresentada fez concluir que foram atendidos os requisitos de elegibilidade do Convênio MTur/Cooperativa de Negócios e Consultoria Turística - Conectur nº 702720/2008, de acordo com as normas e procedimentos legais aplicáveis, estando, portanto, a Prestação de Contas aprovada no que diz respeito ao cumprimento do objeto".
Depois de levar o dinheiro do Turismo, a Conectur passou a fazer parceria com o Ibrasi. Recebeu R$ 250 mil para mil horas de consultoria referente a um convênio do Ibrasi com o Ministério do Turismo para a "capacitação técnica" no Amapá. O relato da conclusão sobre seu serviço, segundo a Polícia Federal, é fraudulento. "Fica claro que seu relatório não passa de uma fraude para justificar o pagamento por um serviço que não foi executado", diz a investigação.