sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Teria sido Sócrates um profeta pré-islâmico?


Houve um tempo em que a convivência entre o mundo muçulmano e o ocidental foi mais pacífica, apesar das turbulências e da violência que marcou - lamentavelmente - boa (e má) parte dessa história. 

Agora, vem justamente do Irã a associação (inusitada e inesperada) entre o pai da filosofia grega (e ocidental) e o islamismo. 

O escritor iraniano Seyyed Abdolhadi Ghazayi lançou um livro intitulado "Sócrates, o Sábio", apresentando o filósofo grego como uma espécie de profeta pré-islâmico. 

A associação entre a religião muçulmana e outro grande filósofo grego é muito mais clara e conhecida, já que Aristóteles foi redescoberto e divulgado na Idade Média pelos sábios muçulmanos Avicena (Ibn Sina - الله بن سينا) e Averróis (Ibn Ruchd - احمد بن رشد). 

Averróis, por sinal, está retratado como um improvável discípulo muçulmano em meio à plêiade de filósofos gregos no famoso quadro "A Escola de Atenas" de Rafael (em destaque abaixo), tal era a sua importância para a filosofia ocidental, e cuja influência neoaristotélica foi de suma importância no trabalho de São Tomás de Aquino. A seguir a explicação dada por ele à Iran Books News Agency (tradução livre do "inglês iraniano"):
Seyyed Abdolhadi Ghazayi diz que o seu livro trabalha com a filosofia de Sócrates e os fatores que levaram ao nascimento de sua filosofia.

Em relação à história da filosofia antes de Sócrates, Ghazayi explica: “Antes de Sócrates a filosofia de Sócrates existia no Oriente e então ela se trasladou para o Ocidente. Portanto, nós podemos inferir que Sócrates é o herdeiro das filosofias orientais do seu tempo. Uma análise da gênese de Sócrates e suas obras remanescentes constitui outro capítulo deste volume.

Ghazayi acrescenta: “Neste livro eu utilizei um estilo simples de escrita, evitando intencionalmente expressões difíceis. Minha ênfase na escrita simples abrange inclusive os termos filosóficos de Sócrates”.

O seu interesse em Sócrates começou com o interesse nos filósofos gregos clássicos, frisando: “Um sábio deve, antes de tudo, ser um teólogo, e assim era Sócrates. Eu o considero um profeta divino. Deus não nos revelou os nomes de todos os seus profetas, e já que Sócrates era um teólogo eu não tenho dúvida alguma de que ele tenha sido um mensageiro divino”.

Ghazayi continua: “Cada profeta teve uma missão particular na sua vida e a significância daquela missão num determinado período histórico fez com que ele se perpetuasse na história. Alguns filósofos chegam até mesmo a não considerar Sócrates como um sábio, ainda que ele tenha sido martirizado no patíbulo da filosofia e da teosofia”.

Ele prossegue: “Filosofia é um tipo de saber que nasce da teologia. Os filósofos islâmicos não praticam filosofia pura. O que foi traduzido para o árabe e oferecido aos árabes daquele tempo era filosofia pura, mas Farabi, Ibn Ruchd e Ibn Sina a mesclaram com as ciências corânicas”.

Continua: “A obra de Ibn Sina, “A Cura”, é um texto filosófico inspirado pela tradição islâmica e pelo alcorão”.

As palavras de Sócrates não podiam ser entendidas no seu tempo e por isso ele foi morto por envenenamento, explica Ghazayi. As suas maneiras e ideias eram únicas entre os seus discípulos. Eles costumavam beber vinho enquanto Sócrates o evitava. De fato, ele foi a primeira pessoa que baniu a bebida e isto comprova que ele tinha um relativo entendimento da lei divina.

Ghazayi enfatiza ainda: “As obras remanescentes de Sócrates mostram que ele se posicionou além das ideias dos seus contemporâneos e os ensinou aquilo que era útil para suas mentes e seus corpos. A teologia não significava nada para as pessoas daquela época, mas ele as instruiu no conhecimento divino como um profeta sábio.

A título de registro, existe um livro em inglês cujo título é "Socrates on Judaism, Christianity e Islam: Asking the Right God-Questions", de Doug Van Scyoc, publicado em 2007, que aparentemente também faz uma relação entre Sócrates e as três grandes religiões monoteístas do mundo, mas sobre o qual não foi possível localizar resenhas ou maiores comentários sobre seu conteúdo.





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