segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Papa visitará mosteiro de Lutero

O papa Bento XVI visitará a Alemanha no próximo mês de setembro, e chamou a atenção um detalhe do roteiro de visitas do papa ao seu país natal: a visita ao antigo mosteiro agostiniano de Erfurt, lugar onde Martinho Lutero começou sua vida monástica (e se ordenou padre) na igreja católica, após ter estudado Direito na universidade da mesma cidade, curso que abandonou para se dedicar aos estudos de Teologia. O mosteiro deixou de ser católico em 1556, quando o último monge agostiniano morreu. Depois disso foi secularizado, servindo a vários propósitos administrativos e governamentais, tendo o seu templo sido reconsagrado como luterano em 1851. Durante a Segunda Guerra Mundial, serviu de abrigo antiaéreo para a população civil até 25 de fevereiro de 1945, quando um bombardeio britânico destruiu o mosteiro e matou 267 pessoas que ali estavam refugiadas, embaixo da biblioteca. A reconstrução começou em 1946 e foi completada em 1957, e um seminário ocupou o local de 1960 a 1993, quando foi adaptado para se tornar um centro de conferências da Igreja Luterana, destinação que mantém até hoje, mesmo com uma área reservada a sete irmãs de uma ordem religiosa luterana que segue a Regra de São Bento.

A visita a este mosteiro histórico - e decisivo na formação do padre e teólogo que levou a Reforma Protestante adiante - está sendo vista, portanto, como uma "homenagem" do papa a Lutero. Entretanto, autoridades católicas alemãs - ouvidas pela Reuters - advertem que esta "honraria" é o máximo que os luteranos podem esperar do papa ao seu compatriota teólogo, já que, ao que tudo indica, nenhuma iniciativa será tomada para acrescentar uma tábua que seja à estreita e frágil ponte suspensa sobre o abismo das diferências doutrinárias entre católicos e os protestantes tradicionais ou reformados. Hans Langendoerfer, secretário da Conferência de Bispos da Alemanha, disse recentemente à revista Focus que "as esperanças a respeito dessa visita estão à beira da loucura. Estão dizendo que o papa Bento poderia conceder um novo status aos protestantes ou simplesmente mudar todas as regras sobre a comunhão. Isto não funciona assim". Joachim Wanke, bispo católico de Erfurt, diz que será um encontro para fortalecer os laços entre as denominações, mas não deve se esperar nada mais, como uma eucaristia conjunta, algo que já ocorre entre católicos e ortodoxos, por exemplo. Será no mínimo curioso, entretanto, ver a reação do papa ao ser recebido pela bispa luterana de Erfurt, Ilse Junkermann, encarregada de fazer as honras do mosteiro ao ilustre visitante.

Mas nem tudo são nuvens negras no horizonte, diz Hans Langendoerfer, que adiantou que Bento XVI homenageará Lutero pela sua contribuição ao cristianismo, como a ênfase na Bíblia e a promoção da piedade popular. Acrescenta que "em Erfurt, Bento XVI tem como objetivo passar longe da ideia de que os protestantes são os primeiros de todos os dissidentes. Esta visão mais abrangente da história cristã poderia render frutos no momento em que nos aproximamos do 5º centenário da Reforma, a ser comemorado em 2017". De fato, católicos e luteranos vêm conversando há muito tempo, tendo chegado a um acordo sobre a justificação pela fé em 1999 e levantado as mútuas condenações expedidas durante a Reforma, e há esperança de que cheguem a termos mais próximos em 2017. Neste sentido, o teólogo luterano Reinhard Frieling já adianta que "o sonho da unidade de todos os cristãos pode ser realizado se os protestantes concederem ao papa o papel de líder honorário da cristandade".

Boas intenções, sem dúvida, mas todos nós sabemos que um certo lugar muito desagradável anda cheio delas. Por outro lado, nada impede que católicos e protestantes se respeitem, apesar de suas substanciais divergências doutrinárias. Convivência pacífica também é possibilidade e privilégio de quem pensa diferente.

Fontes adicionais:
- TrustLaw
- Sacred Destinations

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