Uma mirada sobre Calvino fora da seara teológica, publicada no jornal Valor Econômico de 23/09/11:
Calvinismo iniciou cultura relojoeira
Por De Schaffhausen
A tradição relojoeira suíça remonta ao século XVI e está intimamente ligada à Reforma Protestante. O teólogo João Calvino, um dos protagonistas daquele movimento de contestação à Igreja Católica, acompanhou o fluxo de fugitivos da perseguição aos protestantes franceses e exilou-se a Suíça em 1536 - quando ela ainda era Confederação Helvética - e, entre idas e vindas, lá se estabeleceu.
Em Genebra, em 1541, ele começou a pregar suas "leis morais", que aconselhavam os fiéis da nova doutrina a buscar uma conduta diária irrepreensível e a fugir, entre outros pecados, da ostentação.
Os joalheiros, diante do impasse, resolveram começar a se dedicar à relojoaria. Mais discretos que as joias e com uma função prática - a de mostrar as horas -, os relógios (na época apenas de bolso) não eram mal vistos pelo calvinismo. Mais que isso, os mais raros e bem acabados ainda serviam para seus donos como indicativo de prosperidade, principal sinal da "predestinação", um dos pilares centrais da religião.
Em 1601 os relojoeiros em Genebra uniram-se em uma guilda e os relógios suíços já eram reputados em regiões próximas. A partir daí, a tradição de montagem, criação e desenvolvimento das chamadas complicações para relógios mecânicos se espalhou para outras cidades do oeste do país, especialmente aquelas no entorno das montanhas Jura, como Neuchâtel e Bienne.
A indústria relojoeira suíça só viveria tempos realmente difíceis quase 400 anos depois, durante a "crise do quartzo". Movidos a bateria e mais baratos que os mecânicos, os relógios de "quartzo", começaram a ser vendidos em escala a partir da década de 1970 e tiraram a hegemonia suíça.
Muitas marcas sobreviveram - e se destacaram no mercado - vendendo relógios mecânicos como artigo de luxo.